Imprensa

Milagre Mabote exemplo de dedicação e magnificência para Moçambique

03/12/2015 11:20

O Presidente da República, Filipe Nyusi, enalteceu hoje a figura de Milagre Mabote, considerando ser o exemplo de um nacionalista determinado, imbuído de generosidade e que seus feitos permanecem marcados de forma

indelével para o país, bem como para as gerações vindouras.

No seu discurso de homenagem, a titulo póstumo, que proferiu mo no posto administrativo de Chicumbane, distrito de Xai-Xai, província meridional de Gaza, Nyusi destacou que é de praxe o povo respeitar e admirar todos aqueles que serviram o país nas situações mais difíceis, adversas e extremas.

“Sem esses filhos não falaríamos de nenhum outro tipo de liberdade. Seríamos menos responsáveis e menos sérios se não nos lembrássemos daqueles que por este país deram tudo”, disse.

Mabote nasceu a 28 de Julho de 1934, naquele posto administrativo, tendo gozado a sua infância apascentando gado e trabalhando na machamba. Embora rapaz de poucas brincadeiras, pois passava maior parte do tempo na igreja e na machamba, ajudando seus pais, Mabote participou nas brincadeiras típicas dos pastores, como a promoção de alguns confrontos físicos entre rapazes da mesma idade, bem como jogou futebol naquela circunscrição.

Frequentou o ensino primário na Missão Suiça de Chicumbane, tendo concluído a 4ª Classe (sistema colonial de educação). Refira-se que Mabote, embora tivesse um aproveitamento excelente e ser um bom aluno, teve que repetir a 4ª Classe porque os seus documentos tinham sido perdidos pela direcção da Escola onde deveria realizar os exames, vendo assim os seus sonhos bloqueados pelo regime colonial.

Concluída a 4ª Classe, em 1953, Mabote procurou continuar os seus estudos em Lourenço Marques, actual Maputo. Nesta cidade, viveu no Lar do Khovo, da Missão Suíça, durante quatro anos.

Em 1958, regressou a Chicumbane, uma vez que tentou, sem sucesso, continuar seus estudos em Maputo e Magude.

No início de 1959, retorna a Maputo e consegue ingressar no ensino secundário, curso nocturno, no Colégio Pedro Nunes. Nesse ano conseguiu um emprego de aspirante administrativo, uma categoria de destaque para os negros, após ter passado de apontador, nos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM).

Foi na década de 60 que a consciência nacionalista de Mabote desperta. Contribuiu para isso, a educação que recebeu na Missão Suíça, a discriminação que sofreu, sobretudo o acesso ao ensino, bem como as reprovações injustas, a militância no Núcleo de Estudantes Secundários
Africanos de Moçambique (NESAM).

No NESAM, um movimento associativo deu grande contributo ao nacionalismo, forjando ideologicamente os jovens e despertando neles a ira contra o regime colonial e as independências africanas dos anos 60.

Como consequência, Mabote ingressa numa célula clandestina no Bairro da Mafalala, arredores da cidade de Maputo.

Mabote foi um dos jovens que participou nos encontros que o primeiro Presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, promoveu em 1961, em Xai-Xai, tendo participado ainda na sua recepção em Lourenço Marques.

Tais encontros reforçaram ainda mais a sua sólida consciência nacionalista e que a militância clandestina colocou-o debaixo da vigilância cerrada da Polícia Internacional para a Defesa do Estado (PIDE) e foi assim que decide empreender a fuga de Moçambique, a 8 de Setembro de 1962 e chegou à Tanzânia, 20 dias depois.

Chegados a Tanzânia, Mabote e o seu grupo tiveram o privilégio de participar na sessão de encerramento do 1º Congresso (da Unidade) da Frelimo, actual partido no poder no país.

No ano seguinte, Mabote fez parte dos primeiros 50 jovens nacionalistas que partiram para receber instrução militar na Argélia.

Refira-se que Mabote e Feliciano Gundana, antigo ministro moçambicano dos Combatentes, permaneceram na Argélia para receber e apoiar o segundo grupo que vinha igualmente para treinos militares.

Em 1964, Mabote participou na criação do primeiro campo de preparação militar de Kongwa, local onde treinavam os jovens nacionalistas que chegavam à Tanzânia. No mesmo ano, é destacado chefe-adjunto do campo de Bagamoyo.

Em 1965, chefia um grupo de nacionalistas seleccionados que seguiam para combater na frente de Niassa, província do norte do país.

A 17 de Maio do mesmo ano, Mabote foi alvejado, fatalmente, pela polícia colonial portuguesa, na povoação de Xiwilika, posto administrativo de Maniamba, distrito de Lago, em Niassa.

Na cerimónia, Nyusi apelou aos moçambicanos a seguirem o exemplo destes heróis nacionais, construindo a dignidade própria e o seu bem-estar.

“A nossa sociedade, libertada com o sacrifício dos melhores filhos, jovens, homens e mulheres, só merece a paz, só merece a liberdade e a estabilidade”, disse Nyusi, sublinhando que a entrega dos heróis nunca será esquecida e nunca “permitiremos que seja equiparada. Foi um momento histórico ímpar”.

O Chefe do Estado fez questão de apontar a consolidação da paz, o reforço da democracia, a preservação da unidade nacional, o desenvolvimento do país, bem como a melhoria da qualidade de vida como as actuais batalhas que devem ser planeadas por novos heróis.

“Há uma missão, há uma causa por defender. Todos nos temos oportunidade para fazer a diferença”, sentenciou.
(AIM)